Bem que eu gostaria de sentir o outono de outrora, com as suas gradações de temperatura decrescente, cor da folhas em cambiantes mil, o restolho sob os meus passos melancólicos e pensativos e a luz cada dia mais baixa a convidar-me à introspecção. Mas a natureza está como os nossos dias, inconstante, imprevisível, em mudanças abruptas.
Desci
ontem ao roseiral numa tentativa de aproveitar os últimos instantes de luz e
cuidar dele. As roseiras estavam como a minha vida pessoal, pouco
assistidas nas suas necessidades essenciais para uma floração luxuriante.
Trabalhei rapidamente, na habitual luta contra o tempo, uma angustiazinha no
coração, tentando tudo abarcar sem o conseguir.
Limpei
o que me foi possível, ramos-ladrão cortados com mão determinada, rosas mortas
retiradas com ternura e agradecimento pela beleza e perfume que trouxeram ao
meu jardim.
Tudo
insuficiente, porém, pensei, ao ver a noite cair com os seus sons
inconfundíveis e os seus mistérios. Pareceu-me ver alguém junto do lago dos
peixes, um movimento inusual por entre os palmitos à tona de água. Talvez...quem
saberá onde e como estamos a cada momento, que filtros desconhecidos emparedam
a nossa visão maior...
Ao
lusco-fusco, com passos cautelosos para não cair nos degraus de xisto e
segurando, grata, contra o peito, a generosa braçada de rosas colhidas durante
a tarefa, voltei para casa.
Em
tempos tortuosos, a vida, com as suas pequenas-grandes compensações, vai-nos
ensinando a aceitação do possível.
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