Tenho
sido por vezes criticada por me assumir como crente convicta na aristocracia
spiritual. Creio ser esta posição olhada com desconfiança, por se pensar que
ela implica noções de hierarquia e superioridade social e material. Nada de
mais erróneo.
Como em
muitos outros casos, perdeu-se o sentido inicial da palavra “aristocracia”, a
qual estava íntimamente ligada ao conceito de qualidade moral e intellectual no
ser humano, sem levar em conta a família
de nascimento ou os meios de riqueza. Contudo, quando os viscosos tentáculos dos interesses privados a
tocaram, a palavra perdeu gradualmente a pureza original e confundiu-se com
oligarquia, O resto é história.
Defendo
a recuperação do conceito de aristocracia aplicado ao espírito e ao intelecto,
É tempo de nos confrontarmos com o que nos rodeia pois a decadência
acelerada do meio social, dos valores
morais e do exercício intellectual tem vindo a produzir uma humanidade
esvaziada e robótica, ausente de si mesma, incapaz de fazer verdadeiras opções
conscientes, dissociada por consequência do conceito fundamental de soberania
pessoal.
Se
estamos todos irmanados na nossa condição de seres aqui em manifestação no
planeta Terra, também é verdade que nos encontramos em diferentes estádios de
desenvolvimento espiritual e de inteligência e não há como iludir esse facto.
Os arautos da Nova Era, entre outros, apregoam a teoria de que somos todos
iguais, todos irmãos e conectados. Infelizmente, a conexão revela-se
especialmente na obsessiva ligação ao
mundo virtual – as conversas pessoais perderam fôlego, mesmo até ao telefone. O
texto (mal escrito e reduzido a escasso vocabulário) impera, mesmo entre
pessoas de grande proximidade física.
FELIPPA LOBATO, Visão Ondulante, tinta-da-china sobre tela, 2015 |
Quando
falo de aristocracia espiritual, refiro-me ao esplendor do espírito, sabiamente
interpretado por uma alma bem estruturada e a inconfundível marca que isso
deixa na acção humana. Pois é pela grandeza comportamental que detecto essa
aristocracia que tenho encontrado um pouco por todas as esferas do humano
terrestre, sem distinção de classe social, nascimento, poder material ou nível
de cultura e educação. Contudo, verifico que é sob a grande pressão da carência
e da adversidade que esse imprint espiritual
mais facilmente se revela.
Aos
poucos, entre quedas e avanços, vai surgindo a génese de uma nova ordem de
valores, que só poderá assentar na governance
do lado feminino da humanidade, essa face criativa, maternal, solidária,
generosa e temerária que a todos habita mas que encontra mais fácil expressão nas
mulheres. Em consequência, a aristocracia espiritual a que me refiro ganhará
cada vez maior relevância e poder actuante no âmbito do novo paradigma. Este ultimo
promoverá, sem dúvida, o governo e a liderança dos melhores (os mais nobres, do
ponto de vista espiritual).
Por
agora, o tempo é de decadência. Tudo a ruir, importantes conquistas, erguidas
sobre o sangue, suor e dor dos antepassados, em queda livre, ante a indiferença
e o desrespeito gerais.
Quero
crer que a memória da alma, contudo, há-de transpor os obstáculos do presente e
levar mais além o traço nobre e a grandeza dos gestos, vindo a mandatar os melhores. Por via de quem não
esquece.
Então era disso que o Dr. Ítalo estava falando. Isso é interessante.
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