Evelyn Williams |
“Y ahí estoy yo, creada a pesar de que los
otros no me ven.
Un
alma con pechos que nutren. Un ser de la creación.”
Ana Cortinas Payeras
Há uma espécie de
invisibilidade na vida real, semelhante
ao bloqueio do outro que as redes sociais actualmente permitem, e que afecta
muitos de nós. Este fenómeno prende-se desde logo com o utilitarismo, que é uma
espécie de pulsão de morte que tem alastrado impiedosamente pelas nossas
sociedades.
Sentires como amor para sempre, lealdade, reverência perante a experiência e a idade, prossecução do conhecimento através do esforço persistente e altruísmo, entre outros, são coisas do passado. Tudo o que é psicologicamente difícil é evitado e o ser humano parece apenas apostado em encenar a felicidade.
Hoje,
interessa-nos o que e quem nos é útil, pelo tempo em que tal utilidade funcione.
Seja qual for o laço que une as pessoas, desde o encontro ocasional na vida,
até ao mais sagrado dos laços: a relação filho-mãe. A nova humanidade foge de
problemas emocionais como o diabo da cruz e literalmente bloqueia e apaga (como
no facebook) o que a possa fazer pensar, portanto incomodar e que, sobretudo, não seja rentável (útil).
Ora só os afectos
e a atenção do outro, alheios a qualquer noção de utilitarismo, nos dão a sensação de sermos visíveis pois o espelhamento
daí decorrente é essencial para uma saudável auto-estima e sustentabilidade da
construção que qualquer vida humana deve representar. Quando o olhar e a
atenção amorosa do outro são desviados do nosso ser, instala-se um sentimento
de traição e de abandono difícil de ultrapassar. Tornámo-nos invisíveis para o
outro, perdemos a validade.
A minha avó Mariana que hoje, se fosse viva, teria 120 anos, introduziu-me ao conceito de “amiga d’alma”. Ela chamava-me assim e, apesar da minha juventude, essas palavras e o sentir que lhes estava subjacente colaram-se à minha estrutura anímica de forma permanente. Uma amiga d’alma é alguém que está ligado a ti, para além da tua utilidade e/ou do desentendimento ocasional. O seu olhar, a natureza afectiva e táctil do laço são fulcrais para a boa estruturação emocional de qualquer ser e para o sentimento de visibilidade ou seja de existência válida e com propósito que todos precisamos de experimentar. Ainda mais: emana da amiga d’alma uma espécie de permanência que é profundamente reconfortante, num mundo onde se tornou moda dizer que tudo flui. Sim, a vida terrena é fluir mas só o reino dos afectos verdadeiros tem a eternidade assegurada.
É que o afecto flui como mel por entre os escolhos da vida, dulcifica os problemas emocionais e fortifica-nos na coragem para o incontornável encontro com os nossos fantasmas. O afecto manifestado ergue-nos acima da linha de água e confere-nos a elasticidade de movimentos e de aspiração desejáveis para a difícil sobrevivência na Terra.
A minha avó Mariana que hoje, se fosse viva, teria 120 anos, introduziu-me ao conceito de “amiga d’alma”. Ela chamava-me assim e, apesar da minha juventude, essas palavras e o sentir que lhes estava subjacente colaram-se à minha estrutura anímica de forma permanente. Uma amiga d’alma é alguém que está ligado a ti, para além da tua utilidade e/ou do desentendimento ocasional. O seu olhar, a natureza afectiva e táctil do laço são fulcrais para a boa estruturação emocional de qualquer ser e para o sentimento de visibilidade ou seja de existência válida e com propósito que todos precisamos de experimentar. Ainda mais: emana da amiga d’alma uma espécie de permanência que é profundamente reconfortante, num mundo onde se tornou moda dizer que tudo flui. Sim, a vida terrena é fluir mas só o reino dos afectos verdadeiros tem a eternidade assegurada.
É que o afecto flui como mel por entre os escolhos da vida, dulcifica os problemas emocionais e fortifica-nos na coragem para o incontornável encontro com os nossos fantasmas. O afecto manifestado ergue-nos acima da linha de água e confere-nos a elasticidade de movimentos e de aspiração desejáveis para a difícil sobrevivência na Terra.
Mariana Inverno,
Notas à Sombra dos Tempos (II)
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