E agora, como vai ser?
Pergunta recorrente quando, nesta plataforma da existência, o outro parte
abruptamente pois, com ou sem doenças na estória, ninguém está preparado para
esse fim sem retorno.
Não dá para acreditar, nem para integrar na consciência de um momento para
o outro. Entra-se num estado alterado, uma espécie de anestesia criada pela
própria dor.
E agora, como vai ser?
Que significado, sentido, propósito pode ter a vida nesta densidade em que
nos movemos, se a voz, o gesto e a energia de um ser muito chegado deixam de
nos acompanhar? Não mais os abraços, a voz reconfortante, não mais a segurança
de não nos sabermos totalmente sós pois o afecto do outro iluminava a nossa
difícil rota e, não raramente, conferia-lhe propósito na complexa manifestação.
E a pergunta surge, insistente, por entre lágrimas e um assustador vazio. E agora?
E a pergunta surge, insistente, por entre lágrimas e um assustador vazio. E agora?
Agora há que viver o luto, uma espécie de exorcismo da perda dolorosa. Mesmo
aqueles que creem na imortalidade da alma, são surpreendidos pela intensidade
da dor vivenciada.
Cada um tem o seu modo de passar pelas coisas e não há formulas fixas para as experiências que cada um tem de
viver. A nossa cultura vive na negação da morte e ensina-nos a fugir dela, a
não a mencionar e, quando finalmente confrontados com a mesma de forma
incontornável, a despachar o assunto (leia-se vigília, funeral, etc) o mais
rapidamente possível e a “virar a página”. Equívocos da formatação. a meu ver.
Ninguém pode realmente “virar essa página”, se a não viver com verdade e
entrega total ao que lhe está a acontecer. O que não sai de nós, em nós
enquista. Corrói-nos, seca-nos por dentro.
Ao ser enlutado, eu diria o seguinte.
Chore, grite, procure expressar a sua mágoa. Fale de quem partiu, em voz alta, do ser que
amou, dessa alma que se foi mas que permanecerá para sempre no seu coração. Tudo quanto habita a nossa consciência vive.
Não se feche, não se isole, esqueça tudo o que aprendeu ou que esperam de si. Gratidão, sim, pelo que teve e que a sua alma guardará para sempre. Mas sobretudo, agora, vivência dessa dor que o despedaça por dentro e lhe rouba sentido à vida. Não sufoque nada, fale com essa alma amada. Sinta o perfume das suas roupas, acaricie os objectos que lhe pertenciam, recupere as memórias, "pinte" as paredes com o seu nome, erga imagens gigantes do ser querido nos Horizontes e nos ecrãs da sua vida.
Não se feche, não se isole, esqueça tudo o que aprendeu ou que esperam de si. Gratidão, sim, pelo que teve e que a sua alma guardará para sempre. Mas sobretudo, agora, vivência dessa dor que o despedaça por dentro e lhe rouba sentido à vida. Não sufoque nada, fale com essa alma amada. Sinta o perfume das suas roupas, acaricie os objectos que lhe pertenciam, recupere as memórias, "pinte" as paredes com o seu nome, erga imagens gigantes do ser querido nos Horizontes e nos ecrãs da sua vida.
Deixe tudo sair: lágrimas, risos, raiva, protesto, revolta, amor, saudade.
Tem direito a tudo, ante a mágoa do irreparável.
Se viver a sua dor com Verdade, de forma politicamente incorrecta, passará
à fase da aceitação. E aí dar-se-á inicio ao reconstruir. Diferente, claro, sem
o privilégio do outro ser incarnado a seu lado na vida, mas com a integração
total do rastro dessa alma na sua.
Isso dar-lhe-á forças para prosseguir no tempo que lhe falta cumprir aqui
na Terra, onde a sua manifestação ainda não terminou.
E agora um lugar comum: conte com o tempo, não para esquecer mas para
suavizar os efeitos da dura prova. Manifeste o seu luto, não deixe o mental
bloqueá-lo.
A hora é invariavelmente negra e dura e áspera e urge assumi-la.
Do outro lado do acanhado portal que ora lhe é proposto transpor,
aguarda-o a Paz profunda, aguarda-o a si mesmo um ser mais forte e mais bem
equipado para cumprir os desígnios da sua manifestação.
Só nesse processo, podem a Vida e a Morte dar-se as mãos, reencontrar-se no seu significado transcendente que continua a escapar-nos.
Fez-me todo o sentido esta nota Mariana Inverno,levei uns bons anos a fazê -lo à minha maneira,não politicamente correcta antes pelo contrário,mas sentindo depois uma outra forma de vivenciar o luto ,que me truxe paz.Abraço forte ♡
ResponderEliminarFez-me todo o sentido esta nota Mariana Inverno,levei uns bons anos a fazê -lo à minha maneira,não politicamente correcta antes pelo contrário,mas sentindo depois uma outra forma de vivenciar o luto ,que me truxe paz.Abraço forte ♡
ResponderEliminarObrigado pelo seu comentário, Antonieta Filipe.
ResponderEliminarCreio ser necessário falar, escrever sobre este assunto tabu. Fechámos-nos à necessidade do coração se expressar livremente, especialmente na hora negra da partida deste mundo daqueles que amamos.
Alegro-me que, no seu caso, tenha alcançado a paz.
Um grande abraço. Mariana
Tenho de procurarar esse librium que julgo see bastante elucidativo em estados bastante delorosos NA vida das pessoas
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