Não me contem histórias
de encantar, agora que ajoelhada ante o momento inglório, revolvo a terra com
mãos trémulas em busca de um húmus
milagroso que fertilize e assegure o meu
passo na dureza dos dias.
Não
me falem de luzes, céus azuis, amores diáfanos e da Deusa. Eu cavalgo no sopro infernal do esquecimento e da
cercania da Companheira certa e um plasma de dor calada fixa-me no cenário insuportável da
destruição progressiva.
Poucas
coisas fazem sentido na lentidão dos dias acelerados, o cerco aperta-se, mas
todas as noites tento encontrar, no respirar solitário da insónia, uma força nova
para prosseguir.
Como
foi que a vida decorreu, entre montes e vales, tudo num torvelinho e, de
repente, deixou de acontecer?
Um
ocaso feito de repeticões entediantes
mas seguras aspergem os teus dias com o anúncio adiado desse final, que desejo
e temo, que antevejo e repudio mas que o senso comum aponta como libertador.
Será?
Aqui
na cidade grande, a tua cidade, só saio por dever. Recolho-me e
encolho-me, porque as esquinas estão
ainda povoadas dos teus olhos ávidos de vida e aventura, e as pedras e as
árvores guardam a memória dos nosso passos, dos nossos voos excêntricos pela
vida fora, sustentados por uma cumplicidade temerária, sobrevivente a mil
quedas. Não me atrevo ainda a desfrutar de novo dos tesouros que esta cidade me oferece, dói-me que já os não possas gozar,
um luto antecipado e premonitório de um fim certo, adiado por mil cuidados que
já não sei se desejáveis ou excessivos.
Na
hora de me ir deste plano, vou querer que me deixem só na neblina da minha
transição, sem permanências forçadas. Mas isso sou eu, totalmente responsável
pela minha vida e espero que ainda lúcida nessa hora. Contigo é diferente, já
se apagaram quase permanentemente as
luzes admiráveis da tua inteligência, os impulsos dementes que te acossam são
rugas dolorosas cruelmente infligidas à minha alma.
Ainda
assim, busco a força para iluminar a
vida em teu redor, com quê não sei bem, mas vou experimentando.
Sou
a guardiã das memórias.
Sossega.
Eu estou aqui!
Hei-de enfrentar os pássaros negros que me sobrevoam e aprender pela exaustão a olhar de frente a realidade do que resta da tua vida. De rojos, extraio das horas um ténue e transcendente fio de esperança, um fio tecido pela lealdade que devemos sempre aos nossos companheiros de rota.
Hei-de enfrentar os pássaros negros que me sobrevoam e aprender pela exaustão a olhar de frente a realidade do que resta da tua vida. De rojos, extraio das horas um ténue e transcendente fio de esperança, um fio tecido pela lealdade que devemos sempre aos nossos companheiros de rota.
In transit, um pouco mais…
Londres,
31 de Maio de 2015
Sem comentários:
Enviar um comentário