Toda
a noite o rouxinol cantou, abrigado no chorão monumental no centro do jardim.
Não me incomoda nunca o canto dos pássaros, nem mesmo no sono da noite. Uma
espécie de música orgânica que acompanha o pulso da hora que passa...
Acordei assim ao som do rouxinol, bem repousada, e fui à cozinha buscar o pequeno almoço que todas as manhãs, transporto religiosamente para o meu quarto no tabuleiro alentejano, verde água, decorado com as flores características. Enquanto preparava essa primeira refeição tão importante para mim, uma notícia na rádio tocou-me de forma especial. Uma cadeia de restaurantes em Lisboa fornece gratuitamente o jantar aos médicos do Serviço Nacional de Saúde. A cada jantar juntam uma mensagem escrita por alguém anónimo, dirigida a esses heróis da luta contra a pandemia. O locutor de serviço leu uma delas. A emoção dominou-me.
Acordei assim ao som do rouxinol, bem repousada, e fui à cozinha buscar o pequeno almoço que todas as manhãs, transporto religiosamente para o meu quarto no tabuleiro alentejano, verde água, decorado com as flores características. Enquanto preparava essa primeira refeição tão importante para mim, uma notícia na rádio tocou-me de forma especial. Uma cadeia de restaurantes em Lisboa fornece gratuitamente o jantar aos médicos do Serviço Nacional de Saúde. A cada jantar juntam uma mensagem escrita por alguém anónimo, dirigida a esses heróis da luta contra a pandemia. O locutor de serviço leu uma delas. A emoção dominou-me.
Convém
gerir bem as emoções, em particular agora que andamos tão vulneráveis com a
suspensão do mundo, tal como o conhecíamos.
Que lágrimas sejam matéria prima de um novo caminho, espécie de cristal fino a adquirir formas insuspeitadas.
Que lágrimas sejam matéria prima de um novo caminho, espécie de cristal fino a adquirir formas insuspeitadas.
Agora
que vivemos, trabalhamos, estudamos, convivemos quase só exclusivamente através
da net, por que não fazer um esforço para subir uma oitava? Por que não dar o melhor
de nós nos posts diários, da nossa busca, dos nossos interesses, por que não
partilhar aquilo a que de mais belo, consistente, profundo, alegre, estimulante
temos acesso? Artigos científicos, poemas, música, reflexões pessoais,
experiências vividas, imagens de arte, de flores, artigos dos pouco media ainda fiáveis
e, se não puder deixar de ser, notícias do mundo q.b. Evitemos a tensão, as
discussões estéreis e a absurda busca de protagonismo. Todos temos algo de
importante a partilhar. A minha alma reverência a tua.
Estamos
distanciados socialmente uns dos outros, não nos vemos, a não ser no écran,
falta o abraço, o carinho táctil.
Mas somos
seres com um notável poder de adaptação. Assim, sem esquecer a incomparável
energia presente no abraço físico verdadeiro, trabalhemos agora com amor no
abraço possível, nestes dias difíceis. Isso vai elevar a frequência vibratória
dessa poderosa malha que é a net e lembrar a beleza, a ciência e a cultura,
beneficiará o colectivo. Sem nos esquecermos de comentar, de boa fé, o que os
outros publicam. Os “likes” por si sós estão banalizados, mais tempo dedicado
ao outro PRECISA-SE!
Lá fora, o rouxinol canta cada vez melhor.
Saibamos
escutá-lo...
MARIANA INVERNO, Notas à Sombra dos Tempos
MARIANA INVERNO, Notas à Sombra dos Tempos